O Brasil está entre os 5 maiores consumidores de medicamentos no mundo. São mais de 32 mil rótulos de medicamentos
Com 12 mil substâncias (quando na verdade bastariam 300 itens)
Há uma drogaria para cada 3 mil habitantes, mais que o dobro recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Medicamentos de venda livre, também conhecidos como OTC e mesmo os éticos, que deveriam ser vendidos apenas sob prescrição dos médicos, são vendidos por telefone ou internet
Os próprios balconistas de farmácias, incentivados pela poderosa indústria farmacêutica, receitam analgésicos e indicam medicamentos de tarja vermelho (éticos) aos consumidores, prováveis doentes.
Também é considerado um dos maiores consumidores de ansiolíticos, onde 75% das mulheres são responsáveis por uso indiscriminado de tranqüilizantes
O país conta com índices alarmantes de morte por intoxicação, cerca de 30% das intoxicações são causadas por medicamentos
Os gastos com medicamentos representam 12% do orçamento familiar.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas cerca de 80 milhões de pessoas é adepta da AUTOMEDICAÇÃO.
15% da população brasileira consome mais de 90% da produção farmacêutica.
25-70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento corresponde a medicamentos,comparativamente a menos de 15% nos países desenvolvidos.
50-70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa.
50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente.
75% das prescrições com antibióticos são errôneas.
Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos.
Cresce constantemente a resistência da maioria dos microrganismos causadores de enfermidades infecciosas prevalentes.
Aos dois anos de idade, algumas crianças receberam aproximadamente 20 aplicações medicamentosas injetáveis.
A metade dos consumidores compra medicamentos para tratamento de um só dia.
53% de todas as prescrições de antibióticos nos Estados Unidos são feitas para crianças de 0 a 4 anos.
Fonte: Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64.
domingo, 14 de março de 2010
FARMACÊUTICO PRA QUÊ?
Siga a prescrição: tome os remédios até o fim do tratamento
Os principais motivos que levam 30% dos pacientes a pararem de tomar remédios antecipadamente.
>Filadélfio da Silva Carvalho, 50 anos, de Rio Verde (GO), estava em casa no dia 3 de março de 2008 quando começou a passar mal: sua pressão subiu, teve dor de cabeça, falta de ar e visão turva. Foi correndo ao hospital, onde um eletrocardiograma revelou sobrecarga no lado esquerdo do coração. Filadélfio foi encaminhado ao Centro de Referência em Hipertensão e Diabetes (CRHD), medicado e com a recomendação de tomar os remédios para hipertensão arterial. Três meses depois, voltou ao CRHD cinco quilos mais magro. Além dos sintomas anteriores, ele agora estava com quadro de hiperglicemia. De novo, foi medicado e orientado. Em setembro, Filadélfio retornou ao CRHD, desta vez apresentando doença renal crônica, retinopatia diabética, com perda de 30% da visão. Dois meses depois, foi novamente atendido, com inchaço no corpo inteiro. “Nós não entendíamos por que ele não melhorava com o tratamento. Foi só então que ele confessou que havia seis meses não tomava a medicação para hipertensão e diabetes”, conta Reila Campos, coordenadora do CRHD. “A saúde dele está gravemente comprometida. Esperamos que ele agora passe a aderir ao tratamento e entenda a importância de tomar os medicamentos na hora certa”, diz Reila.
Os perigos de abandonar os remédios prescritos pelo médico
Muitos de nós nem pensam duas vezes antes de abandonar o tratamento prescrito pelo médico. Não gostamos dos efeitos colaterais, já estamos nos sentindo melhor, não nos sentimos melhor, não temos dinheiro para comprar os remédios, simplesmente esquecemos... Mas o perigo de interromper a medicação subitamente é bastante real.
“Quando o médico recomenda um tratamento tem em vista que a ação do medicamento se dá em determinado período”, explica João Massud Filho, professor e coordenador do curso de Especialização em Medicina Farmacêutica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Se o paciente interrompe o tratamento por conta própria, pode haver falta de eficácia do remédio, aumento de resistência aos antibióticos (se tiverem sido prescritos) e surgimento de sintomas da interrupção (principalmente nos casos de distúrbios do sistema nervoso central)”, explica ele.
Razões comuns para abandonar os remédios e o que você precisa saber antes de fazer isso.
1) Melhora dos primeiros sintomas
“Eu estava me sentindo bem.”
A menina Lohayne Campos, de 13 anos, costuma ter infecções de garganta frequentemente. Há quatro meses, teve mais uma crise. O médico receitou sete dias de antibiótico. Mas, em quatro dias, sentindo-se melhor, pediu à mãe para parar de tomar o remédio. “Eu me arrependi de ter deixado”, conta Cláudia Campos, de São Gonçalo (RJ). Ela interrompeu a medicação e, logo na semana seguinte, voltou a sentir a garganta doer, perdeu o apetite, e teve febre alta. A mãe e a menina voltaram ao médico, que receitou o mesmo medicamento e enfatizou que seria preciso tomar tudo de novo, por sete dias. Mas, novamente, a situação se repetiu e Lohayne parou de tomar o remédio antes do prazo estipulado. Até que, na terceira crise seguida, Cláudia percebeu como era importante seguir à risca a recomendação médica. “Mesmo que meus filhos peçam para parar de tomar, eu não deixo mais”, garante ela.
Sentir-se bem não significa que todas as bactérias foram mortas nem que a infecção foi erradicada. Com o tratamento parcial, os estrepto¬cocos podem atingir o coração e os rins, por exemplo. Interromper a medicação cedo demais também pode contribuir para o problema crescente das bactérias resistentes a antibióticos.
Quem tem doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabete tipo 2, costuma abandonar os comprimidos porque, para começar, não apresenta qualquer sintoma.
Pergunte sempre ao médico quanto tempo você deve tomar o remédio receitado.
2) Efeitos colaterais dos remédios estimulam a interrupção do tratamento médico
“Não gosto dos efeitos colaterais.”
O militar Agnelo Ferreira Leite Neto, 28 anos, toma medicação específica para epilepsia desde os 16. Enquanto seguiu corretamente a recomendação médica, não teve crises. Só não gostava do efeito colateral do remédio: cansaço e sono excessivo. Mas, quase cinco anos depois de iniciar o tratamento, ele decidiu que iria parar de tomar. “Achei que já estava bom e parei”, diz ele. O resultado: em menos de oito meses, teve uma crise. “Tive enrijecimento do pescoço, escurecimento da visão e apaguei. Minha sorte é que eu estava na casa da minha sogra e fui socorrido imediatamente”, lembra Agnelo. Apesar disso, ele insistiu em não retomar a medicação. “Não gostava de me sentir dependente de um remédio para viver”, diz.
Dois meses depois, Agnelo teve outra convulsão. “De novo estava em casa e fui atendido pela minha mulher, Erika. Se estivesse na rua, poderia ter sido pior.” Depois das crises, ele resolveu voltar ao médico e recomeçar o tratamento. “Vou ter de conviver com o remédio, pois sem ele não tenho qualidade de vida”, afirma Agnelo.
Em alguns casos, não é preciso interromper a medicação para se livrar dos efeitos colaterais desagradáveis. Uma dose menor ou a troca do medicamento podem ajudar. Converse com seu médico sobre opções.
3) Medo de viciar-se em remédios
“Não quero me viciar.”
Maria da Consolação V. da Cunha Gonçalves, de 47 anos, dona de casa em Muriaé (MG), tomou durante cinco anos antidepressivos como Bromazepam, Fluoxetina e Clonazepam. “Logo que acordava, corria para tomar o remédio, mesmo sabendo que só deveria tomá-lo à noite. Ou ficava o dia inteiro ansiosa, esperando a hora chegar”, lembra. “Eu já tinha ouvido falar que algumas pessoas não conseguem parar de tomar remédios contra depressão. Quando percebi que era dependente do antidepressivo, fiquei com medo.” Foi então que Maria decidiu interromper o tratamento sem consultar o médico que a acompanhava. “Foi horrível. Sentia tremores no corpo todo, dor de cabeça muito forte, não conseguia dormir nem comer direito. E ainda fiquei tão irritada que não podia conversar com ninguém.”
Parar de to¬mar inibidores seletivos da recaptação da serotonina (o tipo mais comum de antidepressivo) pode desencadear sintomas de abstinência, mas não porque eles viciem. “O vício ao medicamento é uma doença específica”, diz o Dr. Marco Antonio Alves Brasil, do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. “O viciado tem fissura pela droga e sintomas graves de abstinência. Ninguém fica viciado em medicamentos receitados corretamente, a menos que exagere no uso ou abuse de remédios contra a dor ou a ansiedade”, explica ele. Os sintomas da abstinência de antidepressivos podem ser evitados reduzindo-se a dose aos poucos.
4) Remédios são caros
“Era caro demais.”
Maria de Lourdes Domingues Correia, de 65 anos, sofre de asma grave. Qualquer poeira ou cheiro forte pode desencadear uma crise. “Meus pulm&otiilde;es se fecham, não consigo respirar, é uma sensaç&aaaaaaaaatildde;o péssima”, conta. Para evitar as crises, Maria de Lourdes precisa tomar vários remédios, entre eles o Singulair, cuja caixa com 30 comprimidos custa R$ 112. “Tive de interrom¬per o tratamento. Sou aposentada e ganho R$ 480. Não tinha condições de pagar.” Além deste, ela tem de tomar um remédio injetável, o Xolair, que custa R$ 1.800 a ampola. “Preciso de duas doses por mês. Eu recebo o remédio de graça do Ministério da Saúde, mas isso só foi possível porque recorri à Associação Brasileira de Asmáticos, que entrou na Justiça, requerendo o medicamento para o Rio de Janeiro”, conta ela.
Maria de Lourdes também se esforça para pagar por pelo menos um dos remédios de que precisa, o Foraseq, que custa R$ 80 nas farmácias, mas que ela consegue com desconto porque tem uma carteira de fidelização com o laboratório fabricante.
Fique atento aos seus direitos. A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde (MS) afirma que o Governo Federal fornece gratuitamente alguns medicamentos de alto custo ou excepcionais, como aqueles para tratamento de doenças crônicas ou de uso contínuo. Para receber a medicação, o paciente deve procurar atendimento em hospitais da rede pública de saúde.
Pelo programa Farmácia Popular do Brasil, é possível conseguir medicamentos essenciais (específicos para doenças de maior incidência no país) a preço de custo.Basta apresentar a receita médica ou odontológica da rede pública ou particular. Além das farmácias próprias do programa, existem drogarias credenciadas que também dão descontos.
5) Remédios que supostamente causam câncer de mama
“Fiquei com medo do câncer.”
Regina Helena Santana (nome trocado para garantir a privacidade), 59 anos, professora de Artes em São José dos Campos (SP), fez reposição hormonal por seis anos. Ao realizar uma mamografia em março de 2008, seu médico notou um sinal. Como Regina tinha ouvido falar da associação entre uso de hormônios e risco de câncer de mama, interrompeu o tratamento. “As ondas de calor voltaram mais fortes”, lembra ela. “Perdi massa muscular, minha pele ficou flácida, fiquei irritada, além de ter insônia e depressão durante os quase 100 dias que fiquei sem o remédio.” Por não tolerar mais os sintomas da menopausa, decidiu procurar um médico, que avaliou a mamografia, viu que não havia risco de câncer e a aconselhou a recomeçar a reposição.
O Dr. César Eduardo Fernandes, ginecologista de Regina e presidente da comissão científica da Sociedade Brasileira do Climatério, diz que muitas mulheres desistiram da reposição hormonal por causa de notícias que associavam remédios à base de estrogênio e progesterona com o risco de câncer de mama. “Os estudos foram veiculados de forma dramática, levando pânico às mulheres, como se os médicos tivessem cometido um equívoco ao indicar um remédio perigoso”, afirma o Dr. César. “Mas a verdade é que há um risco muito pequeno se comparado aos benefícios da terapêutica. O melhor é jamais abandonar o tratamento sem ouvir antes a opinião do médico”, aconselha ele.
Remédios conhecidos são sempre mais seguros
É prudente usar medicamentos mais antigos, cujos efeitos colaterais são conhecidos, em vez de substâncias mais novas. “Infelizmente é inevitável que alguns efeitos adversos só apareçam quando um medicamento passa a ser consumido por muitas pessoas”, afirma João Massud Filho, coordenador do curso de Especialização em Medicina Farmacêutica da Unifesp. Algumas vezes um padrão só se evidencia depois de anos de uso por milhares de pessoas.
Quando você receber a receita de um remédio novo, pergunte-lhe o motivo de essa nova substância ser melhor do que outra que já está no mercado há mais tempo. Além disso, questione se existem efeitos colateriais adversos graves conhecidos. Antes de fazer uso de um remédio novo, discuta a segurança da nova substância com seu médico.
Fale. Confie em seus instintos. Se você sentir alguma manifestação física ou mental, consulte seu médico o mais cedo possível. No Brasil a notificação de efeito colateral é feita à Anvisa por médicos, odontólogos, farmacêuticos e enfermeiros.
Como lidar com efeitos colaterais adverdos dos remédios
Medicamentos estão associados a riscos e efeitos benéficos. Esteja preparado para compará-los junto a seu médico e faça a si mesmo as seguintes perguntas:
Sinto-me normal ou há algo errado durante o tratamento médico?
Estou deprimido, ansioso ou apenas “esquisito”?
Existe sangue nas fezes ou na urina?
Estou me sentindo sonolento, tonto ou confuso?
Estou preocupado com a possibilidade de não conseguir dormir, comer ou desempenhar minhas atividades normais?
Se você respondeu “sim” a uma ou mais das perguntas anteriores, você e seu médico podem optar por:
Diminuir a dose do remédio prescrito
Mudar a maneira de ingerir o remédico (por exemplo, ingerir junto com as refeições).
Mudar o remédio.
Ficar um tempo sem o medicamento para comprovar se os efeitos colaterais estão relacionados ao remédio.
Suspender por completo a medicação (pode-se tentar mudanças de estilo de vida ou o uso de remédios naturais).
Perigo ao interromper a medicação antes do tempo
MEDICAMENTO: Anticonvulsivante
NOME: Dilantin
USADO PARA: Epilepsia
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO: Crises convulsivas
MEDICAMENTO: Antiplaquetário
NOME: clopidogrel, AAS
USADO PARA: Doença das artérias coronárias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Coágulos sanguíneos que levam a infarto do miocárdio ou AVC
MEDICAMENTO: Antivirais
NOME: associação de abacavir, lamivudina e AZT
USADO PARA: Infecção pelo HIV
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Resistência à medicação, evolução para Aids, infecções oportunistas potencialmente fatais
MEDICAMENTO: Inibidores da aromatase (IA), moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (MSRE)
NOME: Arimidex, Tamoxifen
USADO PARA: Anular o risco de recidiva de câncer de mama em mulheres
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Aumento da chance de recidiva da doença
MEDICAMENTO: Betabloqueadores como o metoprolol
NOME: Lopressor
USADO PARA: Doença das artérias coronárias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Dor torácica, infarto
do miocárdio
MEDICAMENTO: Corticosteroides
NOME: prednisona
USADO PARA: Condições reumatológicas e inflamatórias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Tontura e hipotensão potencialmente fatal
MEDICAMENTO: Narcóticos/opioides
NOME: hidrocodona, morfina, oxicodona
USADO PARA: Dor intensa
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Insônia, náuseas, elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca
MEDICAMENTO: Hipoglicemiantes orais
NOME: glipizida, gliburida, metformina
USADO PARA: Diabete melito
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Elevação perigosa dos níveis sanguíneos de açúcar que pode evoluir para coma
MEDICAMENTO: Antidepressivos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS)
NOME: escitalopram, paroxetina, fluoxetina e sertralina
USADO PARA: Depressão, ansiedade
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Recidiva da depressão, pesadelos, idéias suicidas
MEDICAMENTO: Estimulantes
NOME: anfetamina e dextroanfetamina
USADO PARA: Transtorno de déficit de atenção
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Depressão, fadiga extrema
Fonte: Josiane Nogueira - Seleções Reader Digest
>Filadélfio da Silva Carvalho, 50 anos, de Rio Verde (GO), estava em casa no dia 3 de março de 2008 quando começou a passar mal: sua pressão subiu, teve dor de cabeça, falta de ar e visão turva. Foi correndo ao hospital, onde um eletrocardiograma revelou sobrecarga no lado esquerdo do coração. Filadélfio foi encaminhado ao Centro de Referência em Hipertensão e Diabetes (CRHD), medicado e com a recomendação de tomar os remédios para hipertensão arterial. Três meses depois, voltou ao CRHD cinco quilos mais magro. Além dos sintomas anteriores, ele agora estava com quadro de hiperglicemia. De novo, foi medicado e orientado. Em setembro, Filadélfio retornou ao CRHD, desta vez apresentando doença renal crônica, retinopatia diabética, com perda de 30% da visão. Dois meses depois, foi novamente atendido, com inchaço no corpo inteiro. “Nós não entendíamos por que ele não melhorava com o tratamento. Foi só então que ele confessou que havia seis meses não tomava a medicação para hipertensão e diabetes”, conta Reila Campos, coordenadora do CRHD. “A saúde dele está gravemente comprometida. Esperamos que ele agora passe a aderir ao tratamento e entenda a importância de tomar os medicamentos na hora certa”, diz Reila.
Os perigos de abandonar os remédios prescritos pelo médico
Muitos de nós nem pensam duas vezes antes de abandonar o tratamento prescrito pelo médico. Não gostamos dos efeitos colaterais, já estamos nos sentindo melhor, não nos sentimos melhor, não temos dinheiro para comprar os remédios, simplesmente esquecemos... Mas o perigo de interromper a medicação subitamente é bastante real.
“Quando o médico recomenda um tratamento tem em vista que a ação do medicamento se dá em determinado período”, explica João Massud Filho, professor e coordenador do curso de Especialização em Medicina Farmacêutica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Se o paciente interrompe o tratamento por conta própria, pode haver falta de eficácia do remédio, aumento de resistência aos antibióticos (se tiverem sido prescritos) e surgimento de sintomas da interrupção (principalmente nos casos de distúrbios do sistema nervoso central)”, explica ele.
Razões comuns para abandonar os remédios e o que você precisa saber antes de fazer isso.
1) Melhora dos primeiros sintomas
“Eu estava me sentindo bem.”
A menina Lohayne Campos, de 13 anos, costuma ter infecções de garganta frequentemente. Há quatro meses, teve mais uma crise. O médico receitou sete dias de antibiótico. Mas, em quatro dias, sentindo-se melhor, pediu à mãe para parar de tomar o remédio. “Eu me arrependi de ter deixado”, conta Cláudia Campos, de São Gonçalo (RJ). Ela interrompeu a medicação e, logo na semana seguinte, voltou a sentir a garganta doer, perdeu o apetite, e teve febre alta. A mãe e a menina voltaram ao médico, que receitou o mesmo medicamento e enfatizou que seria preciso tomar tudo de novo, por sete dias. Mas, novamente, a situação se repetiu e Lohayne parou de tomar o remédio antes do prazo estipulado. Até que, na terceira crise seguida, Cláudia percebeu como era importante seguir à risca a recomendação médica. “Mesmo que meus filhos peçam para parar de tomar, eu não deixo mais”, garante ela.
Sentir-se bem não significa que todas as bactérias foram mortas nem que a infecção foi erradicada. Com o tratamento parcial, os estrepto¬cocos podem atingir o coração e os rins, por exemplo. Interromper a medicação cedo demais também pode contribuir para o problema crescente das bactérias resistentes a antibióticos.
Quem tem doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabete tipo 2, costuma abandonar os comprimidos porque, para começar, não apresenta qualquer sintoma.
Pergunte sempre ao médico quanto tempo você deve tomar o remédio receitado.
2) Efeitos colaterais dos remédios estimulam a interrupção do tratamento médico
“Não gosto dos efeitos colaterais.”
O militar Agnelo Ferreira Leite Neto, 28 anos, toma medicação específica para epilepsia desde os 16. Enquanto seguiu corretamente a recomendação médica, não teve crises. Só não gostava do efeito colateral do remédio: cansaço e sono excessivo. Mas, quase cinco anos depois de iniciar o tratamento, ele decidiu que iria parar de tomar. “Achei que já estava bom e parei”, diz ele. O resultado: em menos de oito meses, teve uma crise. “Tive enrijecimento do pescoço, escurecimento da visão e apaguei. Minha sorte é que eu estava na casa da minha sogra e fui socorrido imediatamente”, lembra Agnelo. Apesar disso, ele insistiu em não retomar a medicação. “Não gostava de me sentir dependente de um remédio para viver”, diz.
Dois meses depois, Agnelo teve outra convulsão. “De novo estava em casa e fui atendido pela minha mulher, Erika. Se estivesse na rua, poderia ter sido pior.” Depois das crises, ele resolveu voltar ao médico e recomeçar o tratamento. “Vou ter de conviver com o remédio, pois sem ele não tenho qualidade de vida”, afirma Agnelo.
Em alguns casos, não é preciso interromper a medicação para se livrar dos efeitos colaterais desagradáveis. Uma dose menor ou a troca do medicamento podem ajudar. Converse com seu médico sobre opções.
3) Medo de viciar-se em remédios
“Não quero me viciar.”
Maria da Consolação V. da Cunha Gonçalves, de 47 anos, dona de casa em Muriaé (MG), tomou durante cinco anos antidepressivos como Bromazepam, Fluoxetina e Clonazepam. “Logo que acordava, corria para tomar o remédio, mesmo sabendo que só deveria tomá-lo à noite. Ou ficava o dia inteiro ansiosa, esperando a hora chegar”, lembra. “Eu já tinha ouvido falar que algumas pessoas não conseguem parar de tomar remédios contra depressão. Quando percebi que era dependente do antidepressivo, fiquei com medo.” Foi então que Maria decidiu interromper o tratamento sem consultar o médico que a acompanhava. “Foi horrível. Sentia tremores no corpo todo, dor de cabeça muito forte, não conseguia dormir nem comer direito. E ainda fiquei tão irritada que não podia conversar com ninguém.”
Parar de to¬mar inibidores seletivos da recaptação da serotonina (o tipo mais comum de antidepressivo) pode desencadear sintomas de abstinência, mas não porque eles viciem. “O vício ao medicamento é uma doença específica”, diz o Dr. Marco Antonio Alves Brasil, do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. “O viciado tem fissura pela droga e sintomas graves de abstinência. Ninguém fica viciado em medicamentos receitados corretamente, a menos que exagere no uso ou abuse de remédios contra a dor ou a ansiedade”, explica ele. Os sintomas da abstinência de antidepressivos podem ser evitados reduzindo-se a dose aos poucos.
4) Remédios são caros
“Era caro demais.”
Maria de Lourdes Domingues Correia, de 65 anos, sofre de asma grave. Qualquer poeira ou cheiro forte pode desencadear uma crise. “Meus pulm&otiilde;es se fecham, não consigo respirar, é uma sensaç&aaaaaaaaatildde;o péssima”, conta. Para evitar as crises, Maria de Lourdes precisa tomar vários remédios, entre eles o Singulair, cuja caixa com 30 comprimidos custa R$ 112. “Tive de interrom¬per o tratamento. Sou aposentada e ganho R$ 480. Não tinha condições de pagar.” Além deste, ela tem de tomar um remédio injetável, o Xolair, que custa R$ 1.800 a ampola. “Preciso de duas doses por mês. Eu recebo o remédio de graça do Ministério da Saúde, mas isso só foi possível porque recorri à Associação Brasileira de Asmáticos, que entrou na Justiça, requerendo o medicamento para o Rio de Janeiro”, conta ela.
Maria de Lourdes também se esforça para pagar por pelo menos um dos remédios de que precisa, o Foraseq, que custa R$ 80 nas farmácias, mas que ela consegue com desconto porque tem uma carteira de fidelização com o laboratório fabricante.
Fique atento aos seus direitos. A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde (MS) afirma que o Governo Federal fornece gratuitamente alguns medicamentos de alto custo ou excepcionais, como aqueles para tratamento de doenças crônicas ou de uso contínuo. Para receber a medicação, o paciente deve procurar atendimento em hospitais da rede pública de saúde.
Pelo programa Farmácia Popular do Brasil, é possível conseguir medicamentos essenciais (específicos para doenças de maior incidência no país) a preço de custo.Basta apresentar a receita médica ou odontológica da rede pública ou particular. Além das farmácias próprias do programa, existem drogarias credenciadas que também dão descontos.
5) Remédios que supostamente causam câncer de mama
“Fiquei com medo do câncer.”
Regina Helena Santana (nome trocado para garantir a privacidade), 59 anos, professora de Artes em São José dos Campos (SP), fez reposição hormonal por seis anos. Ao realizar uma mamografia em março de 2008, seu médico notou um sinal. Como Regina tinha ouvido falar da associação entre uso de hormônios e risco de câncer de mama, interrompeu o tratamento. “As ondas de calor voltaram mais fortes”, lembra ela. “Perdi massa muscular, minha pele ficou flácida, fiquei irritada, além de ter insônia e depressão durante os quase 100 dias que fiquei sem o remédio.” Por não tolerar mais os sintomas da menopausa, decidiu procurar um médico, que avaliou a mamografia, viu que não havia risco de câncer e a aconselhou a recomeçar a reposição.
O Dr. César Eduardo Fernandes, ginecologista de Regina e presidente da comissão científica da Sociedade Brasileira do Climatério, diz que muitas mulheres desistiram da reposição hormonal por causa de notícias que associavam remédios à base de estrogênio e progesterona com o risco de câncer de mama. “Os estudos foram veiculados de forma dramática, levando pânico às mulheres, como se os médicos tivessem cometido um equívoco ao indicar um remédio perigoso”, afirma o Dr. César. “Mas a verdade é que há um risco muito pequeno se comparado aos benefícios da terapêutica. O melhor é jamais abandonar o tratamento sem ouvir antes a opinião do médico”, aconselha ele.
Remédios conhecidos são sempre mais seguros
É prudente usar medicamentos mais antigos, cujos efeitos colaterais são conhecidos, em vez de substâncias mais novas. “Infelizmente é inevitável que alguns efeitos adversos só apareçam quando um medicamento passa a ser consumido por muitas pessoas”, afirma João Massud Filho, coordenador do curso de Especialização em Medicina Farmacêutica da Unifesp. Algumas vezes um padrão só se evidencia depois de anos de uso por milhares de pessoas.
Quando você receber a receita de um remédio novo, pergunte-lhe o motivo de essa nova substância ser melhor do que outra que já está no mercado há mais tempo. Além disso, questione se existem efeitos colateriais adversos graves conhecidos. Antes de fazer uso de um remédio novo, discuta a segurança da nova substância com seu médico.
Fale. Confie em seus instintos. Se você sentir alguma manifestação física ou mental, consulte seu médico o mais cedo possível. No Brasil a notificação de efeito colateral é feita à Anvisa por médicos, odontólogos, farmacêuticos e enfermeiros.
Como lidar com efeitos colaterais adverdos dos remédios
Medicamentos estão associados a riscos e efeitos benéficos. Esteja preparado para compará-los junto a seu médico e faça a si mesmo as seguintes perguntas:
Sinto-me normal ou há algo errado durante o tratamento médico?
Estou deprimido, ansioso ou apenas “esquisito”?
Existe sangue nas fezes ou na urina?
Estou me sentindo sonolento, tonto ou confuso?
Estou preocupado com a possibilidade de não conseguir dormir, comer ou desempenhar minhas atividades normais?
Se você respondeu “sim” a uma ou mais das perguntas anteriores, você e seu médico podem optar por:
Diminuir a dose do remédio prescrito
Mudar a maneira de ingerir o remédico (por exemplo, ingerir junto com as refeições).
Mudar o remédio.
Ficar um tempo sem o medicamento para comprovar se os efeitos colaterais estão relacionados ao remédio.
Suspender por completo a medicação (pode-se tentar mudanças de estilo de vida ou o uso de remédios naturais).
Perigo ao interromper a medicação antes do tempo
MEDICAMENTO: Anticonvulsivante
NOME: Dilantin
USADO PARA: Epilepsia
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO: Crises convulsivas
MEDICAMENTO: Antiplaquetário
NOME: clopidogrel, AAS
USADO PARA: Doença das artérias coronárias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Coágulos sanguíneos que levam a infarto do miocárdio ou AVC
MEDICAMENTO: Antivirais
NOME: associação de abacavir, lamivudina e AZT
USADO PARA: Infecção pelo HIV
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Resistência à medicação, evolução para Aids, infecções oportunistas potencialmente fatais
MEDICAMENTO: Inibidores da aromatase (IA), moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (MSRE)
NOME: Arimidex, Tamoxifen
USADO PARA: Anular o risco de recidiva de câncer de mama em mulheres
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Aumento da chance de recidiva da doença
MEDICAMENTO: Betabloqueadores como o metoprolol
NOME: Lopressor
USADO PARA: Doença das artérias coronárias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Dor torácica, infarto
do miocárdio
MEDICAMENTO: Corticosteroides
NOME: prednisona
USADO PARA: Condições reumatológicas e inflamatórias
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Tontura e hipotensão potencialmente fatal
MEDICAMENTO: Narcóticos/opioides
NOME: hidrocodona, morfina, oxicodona
USADO PARA: Dor intensa
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Insônia, náuseas, elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca
MEDICAMENTO: Hipoglicemiantes orais
NOME: glipizida, gliburida, metformina
USADO PARA: Diabete melito
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Elevação perigosa dos níveis sanguíneos de açúcar que pode evoluir para coma
MEDICAMENTO: Antidepressivos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS)
NOME: escitalopram, paroxetina, fluoxetina e sertralina
USADO PARA: Depressão, ansiedade
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Recidiva da depressão, pesadelos, idéias suicidas
MEDICAMENTO: Estimulantes
NOME: anfetamina e dextroanfetamina
USADO PARA: Transtorno de déficit de atenção
POSSÍVEIS RISCOS DA INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO: Depressão, fadiga extrema
Fonte: Josiane Nogueira - Seleções Reader Digest
Os perigos dos remédios sem receita. A mistura de uma simples aspirina com outros medicamentos pode ter sérias conseqüências
Quando o garçom de 44 anos chegou carregado ao hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, ainda estava inconsciente. Ele tinha desmaiado e batido com a cabeça. Ágeis, os médicos conseguiram regularizar a respiração e o homem voltou a si em 20 minutos. Ele foi levado à Unidade de Terapia Intensiva, onde ficou internado por 12 horas e acabou se recuperando.
A experiência quase fatal que o homem viveu foi causada por uma reação alérgica. No entanto, ele já havia tomado remédios para dor de cabeça antes, sem que houvesse qualquer problema. Então, o que aconteceu?
Com uma dor de cabeça muito forte, ele ingeriu um remédio vendido sem receita médica que imaginava conter aspirina, o Magnopyrol. Mas, se ele tivesse lido o rótulo com atenção, teria visto uma advertência em letras pequenas dizendo que o medicamento continha dipirona, substância ativa à qual ele era alérgico.
Felizmente, experiências graves como essa decorrentes da ingestão de medicamentos legalmente vendidos sem receita médica não são freqüentes. Mas o erro do homem - não se informar sobre o remédio comprado - é muito comum. Uma pesquisa recente sobre consumo de medicamentos em Fortaleza, realizada pelo professor Paulo Arrais, do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará, descobriu que cerca de 80% dos entrevistados compravam remédios sem procurar saber os riscos ou efeitos colaterais que eles poderiam causar. Cerca de 80% dos balconistas, por sua vez, não perguntam se o comprador tem alergia a alguma substância ou se está fazendo uso de outro tipo de remédio a fim de evitar os riscos das interações indevidas entre os medicamentos.
Os perigos podem ser consideráveis. Os remédios que compramos para alergia, dor de cabeça, enjôo e outros transtornos são drogas. E devem ser usados com responsabilidade. Quem toma medicamentos que exigem receita médica deve consultar o clínico antes de ingerir qualquer outra substância.
Os consumidores que não fazem isso, ou que ignoram advertências no rótulo ou na bula antes de tomar um dos mais de 1.800 remédios hoje vendidos sem receita médica no mercado, estão se arriscando. Eis alguns dos riscos:
Overdose
"É comum o consumidor acreditar que a melhora é mais rápida quando ele toma uma dose maior do remédio", diz o Dr. Maurice Vincent, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário da UFRJ. "Mas isso é completamente errado."
Uma carioca de 36 anos, que sofria de dor de cabeça desde os 8 anos, procurou o consultório do Dr. Vincent, queixando-se de que nos últimos 10 meses sentia dores de cabeça diárias e lancinantes. A dor a arrancava do sono profundo, deixando-a enjoada.
Não levou muito tempo para descobrirem o problema. Havia quase um ano a mulher vinha tomando, todos os dias, até 25 comprimidos de analgésicos para se livrar da enxaqueca. O rótulo do remédio adverte os usuários para não ingerirem mais de oito comprimidos por dia e não usarem o medicamento por mais de 48 horas.
"É a famosa dor de cabeça de rebote, que acontece porque logo após o efeito do analgésico o paciente fica mais suscetível a uma nova crise", explica o Dr. Maurice Vincent. "A dor de cabeça piorava e ela tomava mais analgésicos, o que provocou um ciclo dor-analgésico-dor. Então, começamos um tratamento com remédios diários, tomados sempre no mesmo horário, para diminuir a suscetibilidade à enxaqueca. Em vez de tratar a dor de cabeça, o remédio evita os ataques. A paciente está reagindo bem."
Embora nenhum estudo definitivo tenha sido realizado, o Dr. Vincent calcula que cerca de 1,7 milhão de brasileiros tomem em excesso remédios para dor de cabeça vendidos sem receita médica.
"O uso contínuo de analgésicos compostos por mais de um ingrediente ativo, por exemplo, pode ser perigoso", adverte Nestor Schor, coordenador do Departamento de Ensino da Sociedade Brasileira de Nefrologia. "Pode provocar danos renais." De qualquer maneira, esses remédios são considerados seguros quando usados conforme a indicação.
Interação
As autoridades médicas pedem a todo consumidor de medicamentos vendidos apenas com receita, principalmente a quem tem doença crônica, que consulte o médico antes de tomar qualquer remédio vendido sem receita.
Estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros, por exemplo, tomam omeprazol e cloridrato de ranitidina, remédios comuns para azia e gastrite. Mas, se essas pessoas também consomem remédios à base de varfarina (usados para impedir a formação de coágulos), estão se arriscando. O omeprazol e a varfarina, dependendo da dosagem, podem interagir de modo a, em casos extremos, provocar hemorragias, adverte o professor Paulo Arrais.
Hoje, os antidepressivos são remédios largamente utilizados no Brasil. "Quem faz uso de antidepressivos deve ter cuidado ao tomar remédios para resfriado", alerta Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
Um ingrediente comum a muitos remédios para tosse, o dextrometorfano, pode interagir com antidepressivos como fluoxetina ou paroxetina e provocar um problema sério, embora raramente noticiado, chamado síndrome da serotonina. Um comerciante de 45 anos, de São Paulo, em tratamento para depressão, estava resfriado e decidiu comprar um antigripal. Horas depois, chegou à sala de emergências do hospital suando, tremendo, desnorteado, com dificuldade respiratória e pressão sanguínea elevada. Mal sabia ele que um problema tão simples ia se transformar em pesadelo: a síndrome serotoninérgica maligna, que o levou à UTI por uma semana.
Os medicamentos para resfriado também podem interagir perigosamente com outro grupo de antidepressivos chamados inibidores da monoaminoxidase (IMAO). Incluem-se aí a fenelzina e a tranilcopromina. A maioria dos produtos para tosse e resfriado vendidos sem receita médica adverte sobre essa reação.
Anulação
Os consumidores precisam estar cientes de outros riscos potenciais: um remédio pode anular ou diminuir os efeitos de outro.
Como alivia a pressão sanguínea elevada, o captopril é um dos remédios mais vendidos no Brasil. Não é incomum pessoas com pressão alta tomarem aspirina como prevenção a ataques cardíacos. "O ácido acetilsalicílico, ou seja, a aspirina, pode interferir nas ações dos inibidores da ECA (enzima conversora de angiotensina), como o captopril, comprometendo o tratamento da hipertensão", lembra Antônio José Lapa, chefe do Departamento de Farmacologia da Unifesp. (Quem toma inibidores da ECA não deve evitar a aspirina - principalmente se ela foi prescrita pelo médico -, mas deve manter a pressão sanguínea bem monitorizada.)
Muitas pessoas com pressão arterial elevada também sofrem de artrite. A combinação de alguns medicamentos que exigem receita médica para o primeiro problema e o excesso de remédios que não exigem receita médica para o segundo pode interferir na ação da medicação para pressão sanguínea. Por exemplo, quem toma beta-bloqueadores como propanolol e atenolol deve consultar o médico antes de ingerir antiinflamatórios não-esteroidais (NSAIDs), como ibuprofeno e naproxeno.
Anthony Wong também nos adverte para o fato de que os ingredientes ativos de muitos antiácidos, podem reduzir a absorção de alguns antibióticos - tetraciclinas e ciprofloxaxinas. Em alguns casos, eles podem quase anular os efeitos do antibiótico e impedir a cura de infecções mais severas. Os pacientes devem perguntar ao médico se podem tomar os medicamentos concomitantemente.
Suscetibilidade à doença hepática
Quando Maria da Silva,* 40 anos, percebeu uma micose na unha, aliviou os sintomas com miconazole, medicamento que não exige receita médica. Dois dias mais tarde, sua pele estava amarelada. Imediatamente, Maria foi para o hospital, onde os médicos diagnosticaram icterícia.
O fígado não suportou a toxicidade da medicação. Após os exames complementares, foi diagnosticada uma hepatite aguda medicamentosa. Maria já tinha uma infecção crônica no fígado e o uso dessa substância o deixou ainda mais sensível. Felizmente, Maria se recuperou.
Outro perigo para o fígado é a mistura de álcool e acetaminofeno, principal ingrediente de muitos analgésicos vendidos sem receita médica. O Dr. João Luiz Hauer, presidente do Grupo de Fígado do Rio de Janeiro, recomenda que quem bebe com regularidade use menos do que a dosagem normal de produtos com acetaminofeno.
A mistura do álcool com muitos analgésicos vendidos sem receita médica pode ser perigosa. No novo regulamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), instituição que cuida da administração de drogas e alimentos no Brasil, todos os produtos que aliviam a dor e/ou diminuem a febre trarão na bula advertências sobre os efeitos colaterais dos medicamentos de venda livre utilizados por pessoas que fazem uso regular de álcool. A revisão que a Anvisa está elaborando vale para todos os tipos de medicamentos, inclusive os vendidos somente com receita médica, e deve entrar em vigor em 2005.
Interação
Os profissionais da saúde pedem aos consumidores que leiam atentamente o rótulo de todo produto vendido sem receita médica e que consultem o clínico. Aconselham ainda as seguintes precauções:
• Procure saber se a medicação compromete a capacidade de dirigir ou outras atividades que exijam atenção.
• Leia o rótulo sempre que comprar um produto vendido sem receita médica, e não apenas na primeira vez. Os fabricantes podem mudar a composição.
• Converse com seu médico, leia atentamente a receita e solicite esclarecimentos ao farmacêutico ou profissional de saúde devidamente habilitado.
• Tenha muito cuidado se você esmagar, mastigar ou partir o medicamento antes da ingestão. Às vezes a droga possui um revestimento que a impede de se dissolver ao passar pelo estômago; às vezes o remédio deve liberar a medicação aos poucos - objetivo que pode ser frustrado caso não seja tomado por inteiro.
Maior auxílio ao consumidor está a caminho. Novas normas da Anvisa aprovadas este ano facilitarão a leitura e o entendimento do rótulo e da bula dos remédios. Haverá letras maiores, mais espaço em branco, um formato padrão e linguagem mais simples, apropriada ao consumidor, para explicar efeitos colaterais, interações e quando consultar o médico. Mas nem todas as advertências do mundo ajudarão se o consumidor não se der ao trabalho de lê-las.
Fonte: Claudia Rodrigues - Seleções Reader Digest
A experiência quase fatal que o homem viveu foi causada por uma reação alérgica. No entanto, ele já havia tomado remédios para dor de cabeça antes, sem que houvesse qualquer problema. Então, o que aconteceu?
Com uma dor de cabeça muito forte, ele ingeriu um remédio vendido sem receita médica que imaginava conter aspirina, o Magnopyrol. Mas, se ele tivesse lido o rótulo com atenção, teria visto uma advertência em letras pequenas dizendo que o medicamento continha dipirona, substância ativa à qual ele era alérgico.
Felizmente, experiências graves como essa decorrentes da ingestão de medicamentos legalmente vendidos sem receita médica não são freqüentes. Mas o erro do homem - não se informar sobre o remédio comprado - é muito comum. Uma pesquisa recente sobre consumo de medicamentos em Fortaleza, realizada pelo professor Paulo Arrais, do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará, descobriu que cerca de 80% dos entrevistados compravam remédios sem procurar saber os riscos ou efeitos colaterais que eles poderiam causar. Cerca de 80% dos balconistas, por sua vez, não perguntam se o comprador tem alergia a alguma substância ou se está fazendo uso de outro tipo de remédio a fim de evitar os riscos das interações indevidas entre os medicamentos.
Os perigos podem ser consideráveis. Os remédios que compramos para alergia, dor de cabeça, enjôo e outros transtornos são drogas. E devem ser usados com responsabilidade. Quem toma medicamentos que exigem receita médica deve consultar o clínico antes de ingerir qualquer outra substância.
Os consumidores que não fazem isso, ou que ignoram advertências no rótulo ou na bula antes de tomar um dos mais de 1.800 remédios hoje vendidos sem receita médica no mercado, estão se arriscando. Eis alguns dos riscos:
Overdose
"É comum o consumidor acreditar que a melhora é mais rápida quando ele toma uma dose maior do remédio", diz o Dr. Maurice Vincent, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário da UFRJ. "Mas isso é completamente errado."
Uma carioca de 36 anos, que sofria de dor de cabeça desde os 8 anos, procurou o consultório do Dr. Vincent, queixando-se de que nos últimos 10 meses sentia dores de cabeça diárias e lancinantes. A dor a arrancava do sono profundo, deixando-a enjoada.
Não levou muito tempo para descobrirem o problema. Havia quase um ano a mulher vinha tomando, todos os dias, até 25 comprimidos de analgésicos para se livrar da enxaqueca. O rótulo do remédio adverte os usuários para não ingerirem mais de oito comprimidos por dia e não usarem o medicamento por mais de 48 horas.
"É a famosa dor de cabeça de rebote, que acontece porque logo após o efeito do analgésico o paciente fica mais suscetível a uma nova crise", explica o Dr. Maurice Vincent. "A dor de cabeça piorava e ela tomava mais analgésicos, o que provocou um ciclo dor-analgésico-dor. Então, começamos um tratamento com remédios diários, tomados sempre no mesmo horário, para diminuir a suscetibilidade à enxaqueca. Em vez de tratar a dor de cabeça, o remédio evita os ataques. A paciente está reagindo bem."
Embora nenhum estudo definitivo tenha sido realizado, o Dr. Vincent calcula que cerca de 1,7 milhão de brasileiros tomem em excesso remédios para dor de cabeça vendidos sem receita médica.
"O uso contínuo de analgésicos compostos por mais de um ingrediente ativo, por exemplo, pode ser perigoso", adverte Nestor Schor, coordenador do Departamento de Ensino da Sociedade Brasileira de Nefrologia. "Pode provocar danos renais." De qualquer maneira, esses remédios são considerados seguros quando usados conforme a indicação.
Interação
As autoridades médicas pedem a todo consumidor de medicamentos vendidos apenas com receita, principalmente a quem tem doença crônica, que consulte o médico antes de tomar qualquer remédio vendido sem receita.
Estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros, por exemplo, tomam omeprazol e cloridrato de ranitidina, remédios comuns para azia e gastrite. Mas, se essas pessoas também consomem remédios à base de varfarina (usados para impedir a formação de coágulos), estão se arriscando. O omeprazol e a varfarina, dependendo da dosagem, podem interagir de modo a, em casos extremos, provocar hemorragias, adverte o professor Paulo Arrais.
Hoje, os antidepressivos são remédios largamente utilizados no Brasil. "Quem faz uso de antidepressivos deve ter cuidado ao tomar remédios para resfriado", alerta Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
Um ingrediente comum a muitos remédios para tosse, o dextrometorfano, pode interagir com antidepressivos como fluoxetina ou paroxetina e provocar um problema sério, embora raramente noticiado, chamado síndrome da serotonina. Um comerciante de 45 anos, de São Paulo, em tratamento para depressão, estava resfriado e decidiu comprar um antigripal. Horas depois, chegou à sala de emergências do hospital suando, tremendo, desnorteado, com dificuldade respiratória e pressão sanguínea elevada. Mal sabia ele que um problema tão simples ia se transformar em pesadelo: a síndrome serotoninérgica maligna, que o levou à UTI por uma semana.
Os medicamentos para resfriado também podem interagir perigosamente com outro grupo de antidepressivos chamados inibidores da monoaminoxidase (IMAO). Incluem-se aí a fenelzina e a tranilcopromina. A maioria dos produtos para tosse e resfriado vendidos sem receita médica adverte sobre essa reação.
Anulação
Os consumidores precisam estar cientes de outros riscos potenciais: um remédio pode anular ou diminuir os efeitos de outro.
Como alivia a pressão sanguínea elevada, o captopril é um dos remédios mais vendidos no Brasil. Não é incomum pessoas com pressão alta tomarem aspirina como prevenção a ataques cardíacos. "O ácido acetilsalicílico, ou seja, a aspirina, pode interferir nas ações dos inibidores da ECA (enzima conversora de angiotensina), como o captopril, comprometendo o tratamento da hipertensão", lembra Antônio José Lapa, chefe do Departamento de Farmacologia da Unifesp. (Quem toma inibidores da ECA não deve evitar a aspirina - principalmente se ela foi prescrita pelo médico -, mas deve manter a pressão sanguínea bem monitorizada.)
Muitas pessoas com pressão arterial elevada também sofrem de artrite. A combinação de alguns medicamentos que exigem receita médica para o primeiro problema e o excesso de remédios que não exigem receita médica para o segundo pode interferir na ação da medicação para pressão sanguínea. Por exemplo, quem toma beta-bloqueadores como propanolol e atenolol deve consultar o médico antes de ingerir antiinflamatórios não-esteroidais (NSAIDs), como ibuprofeno e naproxeno.
Anthony Wong também nos adverte para o fato de que os ingredientes ativos de muitos antiácidos, podem reduzir a absorção de alguns antibióticos - tetraciclinas e ciprofloxaxinas. Em alguns casos, eles podem quase anular os efeitos do antibiótico e impedir a cura de infecções mais severas. Os pacientes devem perguntar ao médico se podem tomar os medicamentos concomitantemente.
Suscetibilidade à doença hepática
Quando Maria da Silva,* 40 anos, percebeu uma micose na unha, aliviou os sintomas com miconazole, medicamento que não exige receita médica. Dois dias mais tarde, sua pele estava amarelada. Imediatamente, Maria foi para o hospital, onde os médicos diagnosticaram icterícia.
O fígado não suportou a toxicidade da medicação. Após os exames complementares, foi diagnosticada uma hepatite aguda medicamentosa. Maria já tinha uma infecção crônica no fígado e o uso dessa substância o deixou ainda mais sensível. Felizmente, Maria se recuperou.
Outro perigo para o fígado é a mistura de álcool e acetaminofeno, principal ingrediente de muitos analgésicos vendidos sem receita médica. O Dr. João Luiz Hauer, presidente do Grupo de Fígado do Rio de Janeiro, recomenda que quem bebe com regularidade use menos do que a dosagem normal de produtos com acetaminofeno.
A mistura do álcool com muitos analgésicos vendidos sem receita médica pode ser perigosa. No novo regulamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), instituição que cuida da administração de drogas e alimentos no Brasil, todos os produtos que aliviam a dor e/ou diminuem a febre trarão na bula advertências sobre os efeitos colaterais dos medicamentos de venda livre utilizados por pessoas que fazem uso regular de álcool. A revisão que a Anvisa está elaborando vale para todos os tipos de medicamentos, inclusive os vendidos somente com receita médica, e deve entrar em vigor em 2005.
Interação
Os profissionais da saúde pedem aos consumidores que leiam atentamente o rótulo de todo produto vendido sem receita médica e que consultem o clínico. Aconselham ainda as seguintes precauções:
• Procure saber se a medicação compromete a capacidade de dirigir ou outras atividades que exijam atenção.
• Leia o rótulo sempre que comprar um produto vendido sem receita médica, e não apenas na primeira vez. Os fabricantes podem mudar a composição.
• Converse com seu médico, leia atentamente a receita e solicite esclarecimentos ao farmacêutico ou profissional de saúde devidamente habilitado.
• Tenha muito cuidado se você esmagar, mastigar ou partir o medicamento antes da ingestão. Às vezes a droga possui um revestimento que a impede de se dissolver ao passar pelo estômago; às vezes o remédio deve liberar a medicação aos poucos - objetivo que pode ser frustrado caso não seja tomado por inteiro.
Maior auxílio ao consumidor está a caminho. Novas normas da Anvisa aprovadas este ano facilitarão a leitura e o entendimento do rótulo e da bula dos remédios. Haverá letras maiores, mais espaço em branco, um formato padrão e linguagem mais simples, apropriada ao consumidor, para explicar efeitos colaterais, interações e quando consultar o médico. Mas nem todas as advertências do mundo ajudarão se o consumidor não se der ao trabalho de lê-las.
Fonte: Claudia Rodrigues - Seleções Reader Digest
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