Face à grande                  explosão dos custos na área médica, líderes                  trabalhistas questionam se devem continuar a trocar ganho real                  por benefícios médicos. O frustrado executivo da                  General Motors anunciou ter sua companhia pago uma quantia mais                  elevada pelo seguro de saúde do que pelo aço para                  produzir automóveis. O presidente da maior organização                  de seguro-saúde confessou que o principal problema de                  saúde nos Estados Unidos é como limitar os custos                  da medicina.
  
               A princípio, o governo federal estabeleceu diretrizes encorajando                a auto-regulamentação do setor médico. Essas                medidas não deram resultado. Os custos aumentaram, apesar                dos esforços administrativos e profissionais para limitar                os gastos do sistema. Temos, porém, cada vez mais provas                de que os serviços médicos têm pouco a ver                com a saúde da população.
    
               O economista Victor Fuchs reconhece o impacto dos novos conhecimentos                médicos sobre a saúde é mínimo e conclui                que “atualmente, a melhoria da saúde do povo americano                depende, principalmente, daquilo que ele faz ou deixa de fazer                por si mesmo.” E Anne Somers escreveu que “a                maioria dos problemas de saúde importantes do país — acidentes                de carros, todas as formas de dependência de drogas, inclusive                o alcoolismo, doenças sexualmente transmissíveis,                obesidade, muitos tipos de câncer, a maioria das doenças                cardíacas e dos casos de mortalidade infantil — não                pode ser atribuída a falhas no atendimento (médico),                mas, sim,                     às condições de vida, ignorância                    ou irresponsabilidade dos doentes. Nenhuma quantidade de verbas                    adicionais, nem mesmo a reorganização do sistema,                    terão muito efeito sobre esse problema”.
    
     Cinco caminhos
               Face a esse dilema, a medicina americana criou novas possibilidades,                novos caminhos.
  
               O primeiro é a erradicação do resíduo.                Existem algumas doenças que afligem uma pequena parcela                da população. Um grande esforço é orquestrado                para derrotar a poliomelite, o Lúpus eritematoso e a síndrome                de Tourettes.
    
               O segundo caminho é a possibilidade “biônica” — intervenções                cirúrgicas para reconstruir o corpo humano. Invenções                médicas mecânicas incluem hoje coronárias,                implantes de mama e substituição das articulações,                o transplante de órgãos e operações                envolvendo mudança de sexo.
    
               A terceira possibilidade é a manipulação                genética. As pesquisas sobre clones e DNA sugerem possibilidades                inimagináveis de criação de novos seres humanos.                O exame do líquido amniótico permite a eliminação                dos indivíduos psicológica ou sexualmente “indesejáveis”.                Prometem o aperfeiçoamento da raça humana para permitir                um futuro mais “humano”.
    
               O quarto caminho é a possibilidade de redefinir a condição                humana. Calvície, velhice, gravidez, menopausa e crianças                hiperativas estão sendo definidas como males possíveis                de serem corrigidos por intervenção médica.                Há pouco tempo, foi descoberto um tratamento para a “síndrome                da dona de casa cansada”. As possibilidades a serem                exploradas são ilimitadas se a medicina consegue levar as                pessoas a pensar que suas vidas são problemas médicos.
    
               Por fim, cada uma dessas novas fronteiras médicas cria novos                dilemas. À medida que avançamos nesses novos caminhos,                surgem inúmeras questões sobre ética, custos,                justiças e iatrogenia (doença provocada por erro                médico). Cada questão requer novos recursos profissionais para                corrigir os efeitos colaterais.
    
     A promessa é uma ilusão
               Em suma, a resposta da medicina para a crise dos custos é conduzir-nos                em direção a novas fronteiras. A promessa que nos                aguarda é:
- erradicar as doenças;
 - reconstruir o corpo humano;
 - recriar a humanidade;
 - oferecer terapias para viver;
 - criar novos métodos para corrigir novos dilemas.
 
 A                  oferta é, sem dúvida, interessante. O que a medicina                  está nos oferecendo não                   é apenas a eliminação da doença,                  mas o aperfeiçoamento da vida. Uma oferta difícil                  de recusar!
    
               Entretanto, até mesmo os melhores e mais brilhantes profissionais                da medicina sabem que a promessa não passa de uma ilusão.                Os jornais médicos estão repletos de angustiantes                artigos reconhecendo que, em sua ilimitada                pretensão, a medicina tornou-se um falso deus que afasta                o povo do caminho  não-médico, que                conduziria a uma sociedade sadia.
    
               Resta, então, saber por que a sociedade continua fazendo                um investimento tão catastrófico dos recursos nacionais.
  
               Uma resposta diz que o povo é mal informado ou muito supersticioso                e inclinado a seguir falsos deuses. Existe, também, outra                explicação — a medicina moderna cresce porque                suas principais funções são econômicas                e políticas e não terapêuticas.
    
               Tudo indica que nossa saúde, hoje, requer mudanças                importantes no relacionamento individual, social, econômico                e ambiental. Não requer investimento na medicina. Tais mudanças                exigem alterações revolucionárias nas estruturas                institucionais, nos sistema de valores, nas relações                de poder e no estilo de vida. Obviamente, aqueles que lucram com                as condições atuais não apoiariam esse     “desenvolvimento da saúde”.
  
               Como um dos principais sistemas educacionais da sociedade, a medicina                ensina duas lições fundamentais: 
- quem sabe resolver os problemas é o especialista tecnicamente habilitado. A mensagem da propaganda médica é que precisamos acreditar no profissional. Ele compreende os problemas. Ele conhece as respostas;
 - conseqüentemente, o bem-estar dos indivíduos depende de sua capacidade de serem clientes. Você vai progredir e se desenvolver à medida que receber cuidados médicos. Você é conseqüência do atendimento — não daquilo que você faz.
 
Em segundo lugar, a medicina oferece placebos para os indivíduos que ainda pensam em engajar-se em ações populares para mudar a ordem política que determina a saúde. Para os alienados, irados ou frustrados pelo impacto nocivo causado pela ordem atual, a medicina oferece uma quantidade monumental de medicamentos psicotrópicos que ajudam multidões a suportar a dor.
Em terceiro lugar, à medida que a sociedade investe nas cinco novas fronteiras da medicina, aprende que depende da máxima conquista profissional-tecnológica. Nossa saúde fica na expectativa dos peritos que trabalham com seus microscópios. Em vez de criarmos uma nova ordem sadia, acreditamos que precisamos usar nossos limitados recursos para pesquisa e desenvolvimento.
E, por fim, temos a habilidade da medicina moderna de ofuscar o perigo de uma sociedade tecnológica. Sua promessa de destruir a morte pelas mãos dos tecnocratas confirma uma visão mundial que valoriza o desenvolvimento tecnológico acima de tudo. Em uma sociedade deteriorada, devido ao crescimento ilimitado de sistemas tecnológicos, a medicina nos cega para a causa da nossa morte.
John McKnight
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Fonte: Resumo de artigo publicado na revista “Resurgence”
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