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domingo, 27 de setembro de 2009

As SUPERBACTÉRIAS

Superbactéria
Estudo inédito da Anvisa - medicamentos perdendo efeito devido ao uso excessivo


Alguns dos antibióticos mais usados nas UTIs brasileiras estão perdendo o efeito em razão da resistência bacteriana. É o que aponta um estudo inédito da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que avaliou o perfil de sensibilidade desses medicamentos.

A gentamicina, um dos remédios mais usados para combater problemas gastrointestinais não fez efeito em 59% dos casos analisados. No tratamento da pneumonia, a situação foi parecida: a oxacilina não funcionou em 62% dos casos.

A resistência bacteriana também ficou clara em casos de infecção urinária: em 70% deles, a ceftriaxona, um dos remédios mais indicados, foi ineficaz.

Para os médicos, a resistência é resultado do uso excessivo de antibióticos, que faz com que as bactérias criem barreiras contra eles. Esses microorganismos têm a habilidade de mudar a membrana celular para impedir a entrada do antibiótico ou alterar a sua própria composição química para que o antibiótico não as mate.

"Bactérias resistentes prolongam a internação em 50% do tempo e aumentam os custos em 70%", diz Renato Grinbaum, chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital do Servidor Público Estadual. "Medicamentos que há dez anos só tinham resistência em 1% dos casos hoje não funcionam em 60%."

O estudo da Anvisa, feito entre julho de 2006 e fevereiro deste ano em 64 hospitais -na grande maioria públicos-, é o primeiro trabalho de uma rede em implantação e que pretende monitorar, continuamente, a resistência microbiana.
No futuro, segundo a Anvisa, a idéia é que esses dados orientem os médicos sobre o uso mais adequado dos antibióticos nas mais diversas situações.

"Boa parte dos médicos trabalha empiricamente e sofre influência muito grande da indústria farmacêutica. Eles têm uma tendência para querer prescrever o antibiótico mais caro, o lançamento mais recente, que, nem sempre, é o mais eficaz", afirma o diretor da Anvisa, Cláudio Maierovitch.

Por exemplo, no estudo, observou-se uma baixa freqüência do uso da ampicilina -só 47%- no tratamento do Staphylococcus aureus, responsável pelas infecções hospitalares. Mas ela teve uma eficácia de 94% nos casos analisados.
"É um dos antibióticos mais antigos que a gente conhece, extremamente útil e um dos mais baratos. Os médicos, muitas vezes, partem do princípio de que a bactéria que vão tratar é resistente à ampicilina, então eles nem a usam", afirma.

A agência também vai monitorar o consumo de cada antibiótico no Brasil. "Queremos acompanhar, ao mesmo tempo, os perfis de resistência e de consumo para ver se existe coerência entre as duas coisas."
Para ele, essa coerência não existe. Além da interferência da indústria farmacêutica, ele cita a dificuldade de apoio laboratorial confiável, que dê a identificação correta da bactéria envolvida na infecção.

Uso empírico

Segundo o infectologista Alexandre Rodrigues Marra, dos hospitais Albert Einstein e São Paulo (ligado à Unifesp), é comum o médico administrar um antibiótico de amplo espectro (capaz de tratar a maioria das bactérias), enquanto esperam o resultado dos exames que vão mostrar exatamente o tipo de bactéria envolvida na infecção.

"Se não der antibiótico ao paciente com infecção, ele morre. Se a gente acerta com o antibiótico [de amplo espectro], as chances de óbito são menores." "Às vezes, o médico, com medo, acaba deixando os dois", explica Marra. "O uso empírico dos antibióticos nas UTIs, na tentativa de diminuir a mortalidade, tem um preço. As bactérias ficaram resistentes."

Remédio inócuo

Após contrair escarlatina e salmonela e com a imunidade fragilizada por antibióticos que não eram suficientes para curá-la, Beatriz, 2, filha de Renato e Andréia de Camargo, pegou pneumonia. A inflamação dos pulmões se espalhou pelo resto do corpo, e ela ficou 28 dias na UTI. "Demorou para ela melhorar de verdade", diz a mãe.

Hoje, mesmo saudável, Beatriz ainda é assistida por médicos. Para o infectologista Alfio Rossi Junior, do Instituto de Pediatria do Hospital das Clínicas (SP), que atende Beatriz, a resistência das bactérias é causada, em grande parte, por culpa dos "médicos que receitam muitos antibióticos".

Fonte: Folha de São Paulo
Edição: F.C.
03.07.2007


sábado, 19 de setembro de 2009

Iatrogenia

Iatrogenia é uma alteração patológica provocada no paciente por diagnóstico ou tratamento de qualquer tipo. Um problema iatrogênico é provocado por pessoal ou procedimentos médicos ou através de exposição ao meio hospitalar, inclusive o medo causado ao doente por comentários ou perguntas feitas pelos médicos que o examinam.

Sabemos que muitos medicamentos, equipamentos, cirurgias e terapias são considerados milagres da medicina moderna. Entretanto, existem diversos aspectos desses milagres. Este artigo focaliza o seu lado escuro.

Antigamente, as pessoas confiavam cegamente em seu médico. Havia um vínculo pessoal com o médico. Esse vínculo degenerou com a ênfase na medicina como negócio, códigos, empresas de seguro-saúde. O mercado da área de saúde não procura fazer o bem e as pessoas perderam a confiança. A iatrogenia tem um papel importante e feio nessa história.

Um estudo publicado no Journal of The American Medical Association (2000:284:94), pela drª. Barbara Starfield, mostrou que nos EUA:

  • 12.000 óbitos por ano são provocados por cirurgias desnecessárias;
  • 7.000 óbitos por ano são provocados por erros de medicação em hospitais;
  • 20.000 óbitos por ano são provocados por outros erros em hospitais;
  • 80.000 óbitos por ano são provocados por infecções hospitalares;
  • 106.000 óbitos por ano são provocados por efeitos adversos dos medicamentos.

Isso significa 225.000 óbitos por ano devido a causas iatrogênicas, tornando a iatrogenia uma das principais causas de óbito nos EUA e esse número não inclui deficiências e outros problemas — apenas os óbitos ocorridos nos hospitais. Quando refletimos que anualmente o número de óbitos devido a erros médicos é quatro vezes maior do que o número de óbitos durante toda a guerra do Vietnã, ficamos chocados sem entender porque tal informação não chega às manchetes ou porque ainda não foram criados enormes grupos de estudos custeados pelos médicos ou pelas autoridades políticas.

Nós temos a American Heart Association para cuidar das doenças cardíacas, a “Guerra ao Câncer” e até mesmo grupos como “Mães contra dirigir embriagado” — organizações que analisam todo tipo de problema, menos a iatrogenia. Tais estudos são poucos e raros.

A iatrogenia não se limita aos EUA. O British Medical Journal mencionou, em março de 2000, que “Anualmente, na Austrália, erros médicos causaram 18.000 óbitos desnecessários e mais de 50.000 doentes ficam incapacitados”. Estudos divulgados durante os últimos dez anos indicam uma tendência semelhante na Grã-Bretanha, no Canadá e na Nova Zelândia. A Nova Zelândia tem elevada percentagem de reações adversas a medicamentos, comparável àquela dos EUA, sendo que os EUA e a Nova Zelândia são os únicos países que permitem propaganda agressiva de medicamentos.

Um levantamento estatístico interessante mostra os óbitos atribuídos na Grã- Bretanha, entre 1990 e 1995, a medicamentos que podem causar dependência:

  • Benzodiazepinas – 1.810;
  • Metadona – 676;
  • Heroína – 291.

Temos aí dois medicamentos legalmente receitados e cada um deles causa mais óbitos do que a heroína. Essas estatísticas estarrecedoras não podem mais ser ignoradas. Houve muita negação e silêncio por parte do complexo industrial médico alopático. Como a medicina tornou-se um ramo do comércio e o comércio e a política têm laços estreitos, devemos analisar outros fatos interessantes.

As indústrias farmacêuticas investem fortunas para influenciar a política, no lobby de seus interesses. Elas não fazem este investimento sem esperar um retorno com lucro. Esse talvez seja o motivo pelo qual as autoridades fecham os olhos. As indústrias farmacêuticas também fabricam pesticidas e produtos químicos que provocam câncer e outras doenças. Depois, produzem medicamentos para tratar os males que causam. Esses medicamentos, por sua vez, provocam mais problemas e criam um mercado para mais medicamentos — e mais lucros. Um ciclo muito lucrativo! Pesquisar doenças diverte a atenção dos produtos cancerígenos e letais.

Muitos acreditam que o estudo da Drª. Barbara Starfield citado acima seja apenas a ponta do iceberg, pois apenas analisou doentes hospitalizados. O que dizer dos erros domiciliares e ambulatoriais? Há mais pessoas nesses grupos e certamente mais iatrogenia. Comparadas ao holocausto iatrogênico, as mortes ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial nem parecem tão expressivas. Entretanto, foram realizados poucos esforços para reconhecer e corrigir a iatrogenia.

Assassinato ou erro?
A sutil linha entre um assassinato e um erro é uma batata quente. Poder-se-ia até argumentar que existe um plano elitista global para controle da população, permitindo que a iatrogenia ganhasse tamanho impulso. Porém, independentemente da sua etiologia, a iatrogenia é real; ela corre solta e está longe de ser controlada. Ao considerar a iatrogenia como uma doença infecciosa — fora do controle dos médicos e hospitais — estamos permitindo que a profissão médica e os cartéis farmacêuticos se distanciem da responsabilidade e os isentamos da culpabilidade de homicídio por negligência.

Seria humanamente impossível eliminar inteiramente os erros. O problema é “Quantas vezes um erro acontece até que não seja simplesmente mais um erro, mas sim negligência?” Quando os erros se tornam negligência, estamos testemunhando um verdadeiro holocausto.

Alan R. Yurko